quarta-feira, 11 de agosto de 2010

CLARA A "PLANTINHA" DO SERÁFICO PAI? (Part.1)

Neste dia de Santa Clara de Assis vamos partilhar a primeira parte de um serie de postagens sobre a vida, o carisma e a santidade desta ilustre filha de Assis. O Texto na intergra é de nosso confrade Frei Inácio Dellazari, que atualmente está em missão na Diocese de Roraima - Cidade de Boa Vista.



A história de Assis é marcada pela vida extraordinária dessas duas pessoas. São Francisco nasceu no ano de 1182/3. Clara nasceu em 1193/4. Clara tinha, portanto, onze anos a menos que Francisco. Quando aconteceu a cena de renúncia de São Francisco diante do pai Pedro de Bernardone e do bispo de Assis, na praça onde se localizava a casa de Santa Clara, ela devia ter mais ou menos uns 13 anos de idade. Já era suficientemente grande para admirar, estranhar, ouvir as opiniões e repercussões de um fato desses, numa pequena cidade como era o caso de Assis. Tudo deve ter sido comentado entre todos, inclusive na própria casa de Clara. Um jovem de Assis, com todas as chances de adquirir títulos de glória, abandona tudo e prefere a companhia de leprosos e mendigos de rua. Como isso tudo deve ter repercutido na vida de Clara!

Pouco tempo depois de Francisco retornar de Roma com o primitivo grupo, e com a aprovação do Papa Inocêncio III de seu projeto de vida (1209/10), entra Rufino no grupo de Francisco, um dos primos de Clara (1).

Com isso, a vida de Francisco repercute na própria família de Clara. O próprio Rufino poderia ter talvez confidenciado a Francisco algo sobre o que intencionava Clara.


Clara, como São Francisco, já antes de sua conversão, era uma pessoa dotada de uma sensibilidade muito grande para com as necessidades dos outros, principalmente dos pobres e necessitados. Segundo a Legenda de Clara, "às escondidas enviava alimentos aos órfãos"(2). Segundo Pacífica de Guelfuccio, Clara "amava muito os pobres" e "gostava de visitar os pobres" e era tida "com grande veneração pelos cidadãos”(3). Parece que a sua personalidade se identificava muito com a de São Francisco. Por isso talvez não seja nada estranho que essas duas pessoas tivessem uma afinidade e compreensão muito grande de uma para com a outra.


Clara, "ouvindo falar neste tempo de Francisco, cujo nome já era famoso e que como homem novo renovava com novas virtudes o caminho da perfeição esquecido no mundo, logo quis ouvir e ver”(4). São Francisco, por sua vez, "sabendo da ótima fama de tão agraciada jovem (talvez Rufino tenha falado), não é nele menor o anseio de encontrá-la e falar-lhe"(5). A legenda deixa claro que há um interesse de ambos em conversar e se encontrar. Começam então os encontros. Parece que a primeira vez, foi Francisco a visitar Clara. Clara, porém, visitou mais vezes Francisco. Desses encontros nasceu, aos poucos, uma profunda amizade entre os dois na comunhão do mesmo ideal de vida evangélica.


Conta também a legenda que esses encontros se realizavam às escondidas, sem que ninguém soubesse. Não eram mais freqüentes "para que essa amizade não fosse percebida pelas pessoas, nem fosse denegrida pela opinião pública"(6). Para evitar qualquer suspeita, Francisco se fazia acompanhar de Frei Filipe Longo, e Clara, de Bona de Guelfuccio (7). Clara "confia-se inteiramente à prudência de Francisco, escolhendo-o, após Deus, para mestre de sua direção"(8).


Nesses encontros foi amadurecendo em Clara o ideal de vida que buscava e foi também preparada a sua fuga da casa paterna. Na noite de Domingo de Ramos de 1212, juntamente com Pacífica de Guelfuccio, Clara foge de casa e se dirige à Porciúncula, onde Francisco e os frades a aguardavam para a celebração da consagração de sua vida ao "Altíssimo Pai Celestial". Os frades a aguardaram em vigí1ia, com tochas acesas, ao pé do altar da bem-aventurada Virgem Maria. Segundo a legenda, foi o "lugar onde a nova milícia dos pobres, conduzida por Francisco, teve seu início feliz, para que ficasse patente que a Mãe de misericórdia, na sua habitação, desse à luz ambas as famílias religiosas" (9).

E de fato, não poderia ter sido outro, o lugar escolhido do que o lugar onde moram os pobres. Fora dos muros da cidade de Assis, em meio às inseguranças do mundo dos pobres, na igrejinha que São Francisco recebeu por ser a mais pobre, é somente aí que poderia nascer uma fraternidade universal, sem exclusão. Foi a partir do lugar do pobre que Santa Clara e São Francisco conheceram a possibilidade da fraternidade e onde eles mesmos puderam fazer a experiência de fraternidade. Foi ali que São Francisco deixou de ser filho de Pedro Bernardone e Clara de Favarone, e tornaram-se irmãos.

Despojados da ambição dos comerciantes e nobres, que disputavam a hegemonia em Assis, entre os menores sociais e a partir deles nasceram duas fraternidades de menores evangélicos.

Clara foi acolhida por Francisco e pelos frades no mesmo lugar que para Francisco e para a comunidade primitiva franciscana representa o centro de reunião e de irradiação da vida do Evangelho.


A legenda distingue bem quando fala de ambas as famílias religiosas, mas geradas pela mesma "Mãe de misericórdia". Há algo em comum e algo que distingue. Giacomo da Vitry, na carta escrita em outubro de 1216, enxergava um mesmo movimento, de "ambos os sexos, que, despojando-se de qualquer propriedade, abandonam o mundo. Chamam-se frades menores e irmãs menores". A distinção que é feita refere-se ao modo de vida. Os frades dedicam-se ao apostolado durante o dia e se recolhem à contemplação à noite; enquanto que as mulheres "convivem em alguns hospícios não distantes das cidades; não aceitam doações, mas vivem com o trabalho de suas mãos"(10). Segundo Vitry, há uma identificação nos "menores" e uma distinção no concretizar a mesma vocação.

A presença de São Francisco continuou na procura de um lugar para Clara até que por "vontade do Senhor e de São Francisco" foram morar junto à igreja de São Damião, onde, em pouco tempo, cresceram em número (11). Depois de se estabelecerem em São Damião, São Francisco continuou a acompanhá-las através de exortações escritas. Segundo Clara, São Francisco durante a sua vida deixou "vários escritos" (plura scripta) (12), além de auxiliá-las através da palavra e do exemplo.


Santa Clara, em seu Testamento, recomenda as irmãs aos cuidados do sucessor de São Francisco: "E como ele durante toda a sua vida mostrou tanto cuidado em palavras e obras para tratar e cuidar de nós, suas plantinhas, assim também recomendo agora as minhas irmãs, presentes e futuras, aos cuidados do sucessor de nosso Pai São Francisco e de toda a sua Ordem, para que eles nos ajudem a crescer sempre no serviço de Deus e especialmente na melhor observância da santa pobreza"(l3)

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