sexta-feira, 13 de agosto de 2010

ESCREVEU PARA NÓS UMA FORMA DE VIDA (Part. 3)

Santa Clara inseriu a forma de vida que São Francisco escreveu no capítulo VI de sua Regra: "Desde que, por inspiração divina, vos fizestes filhas e servas do Altíssimo e Sumo Rei, o Pai Celestial, e desposastes o Espírito Santo, escolhendo uma vida conforme com a perfeição do santo Evangelho, quero eu, o que prometo por mim pessoalmente e por meus irmãos, nutrir sempre, a bem de vós, o mesmo e diligente cuidado e solicitude como por eles”(20). Nessa forma de vida, como é próprio de São Francisco, a inspiração divina está na origem da vocação de Clara.

São Francisco promete por ele pessoalmente, e por seus irmãos, ter um igual cuidado e solicitude para com as irmãs como a tem para com seus irmãos. E a razão desse compromisso é: desde que vos fizestes filhas e servas do Altíssimo e Sumo Rei ... , escolhendo uma vida conforme a perfeição do santo Evangelho. Francisco se sente responsável a partir do momento em que Clara e suas irmãs escolhem a mesma vida que ele e os frades escolheram: a perfeição do Evangelho. A fraternidade que nasceu ao redor de Francisco e de Clara tem o mesmo projeto de vida. E Clara acrescenta no final da forma de vida escrita por Francisco: "E ele cumpriu fielmente esta promessa todo o tempo de sua vida e quis também que seus irmãos a cumprissem". Clara pede que o mesmo cuidado e solicitude de Francisco se perpetue com os seus seguidores para com elas.

Através de Francisco lhe foi mostrado o caminho do Evangelho. Preocupada na perseverança deste ideal, quer que os irmãos de Francisco continuem auxiliando no seguimento do Evangelho. E o próprio Francisco, na Última vontade manifestada a Santa Clara, escreveu: "Eu, Frei Francisco, o menor de todos, quero seguir a vida e a pobreza do nosso Altíssimo Senhor Jesus Cristo e de sua Santíssima Mãe e nela perseverar até o fim. Rogo-vos, senhoras minhas, e dou-vos o conselho de viverdes sempre esta santíssima pobreza. Guardai-vos cuidadosamente de vos afastardes dela pelos ensinamentos ou conselhos de quem quer que seja”(21). Francisco está aqui se dirigindo às irmãs da mesma forma que se dirige aos irmãos. Ele se coloca como o menor de todos; ele mesmo promete primeiro cumprir aquilo que pede para ser cumprido; e com a terminologia característica: "rogo-vos", "guardai-vos cuidadosamente". São Francisco revela-se um pai espiritual para Santa Clara da mesma forma que o foi para os frades. Se Clara enxergava em Francisco um pai, Francisco, por sua vez, manifesta uma paternal afeição e zelo para com as damas de São Damião. Afinal, ele foi cúmplice na santa fuga de Clara, ele participou da preparação de todos os momentos até culminar naquela noite de Domingo de Ramos na Porciúncula. Não deveria ele se preocupar com a perseverança desse grupo reunido ao redor de Santa Clara? É isso que Santa Clara pede com insistência. A atitude de Santa Clara parece-me ser a mesma de Frei Leão que pede ajuda e recebe um bilhete de São Francisco; é a mesma atitude do ministro que escreve uma carta a São Francisco, pedindo para abandonar a fraternidade e ir para um eremitério. Aos dois, e a muitos outros, a presença de Francisco foi sempre uma ajuda no sentido de zelar pela fidelidade ao projeto do Evangelho. Para Frei Leão, São Francisco se revela como alguém que respeita profundamente a individualidade de cada irmão: "Do modo que melhor te parecer agradar ao Senhor Deus, e seguir seus passos e sua pobreza, assim farás com a bênção do Senhor Deus e a minha obediência". E mais: "E se, por motivo de tua alma ou de outra tua consolação, precisares e quiseres vir ter comigo, ó Leão, vem". É Frei Leão quem vai ter que descobrir o jeito de agradar ao Senhor Deus. São Francisco não tira a liberdade dos irmãos de serem criativos na resposta ao Evangelho.

Com Santa Clara, me parece que acontece o mesmo. São Francisco não moldou Santa Clara, mas ao mesmo tempo demonstrou sempre uma preocupação muito grande em zelar pelo projeto do Senhor como escreve na Carta aos Fiéis II, 2-3: "Como o servo de todos, a todos tenho a obrigação de servir e ministrar as palavras de meu Senhor, cheias de suave perfume. E considerando comigo que, devido às enfermidades e fraquezas do meu corpo, me é impossível visitar pessoalmente a cada um de vós, resolvi comunicar-vos por meio desta carta e de mensageiros as palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo, que é o Verbo do Pai, e as palavras do Espírito Santo, que são espírito e vida".

Frei Inácio Dellazari, OFM

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